Olá, como vai? Esta semana voltei a escrever sobre as personagens da minha família. O que sempre me diverte muito e faz renovar a disposição para a jornada em que me lancei já faz um tempo. Que jornada? A de registrar algumas memórias/histórias dos Azevedo. Pois é. Esse texto é mais um retalho das minhas lembranças infantis, que compartilho com você. Tomara que goste. Aliás, duvido que você também não tenha alguém assim na sua família! Para você mais uma Crônica de Balaio!
Ele é o terceiro
filho de doze, depois de quem veio minha mãe. Também é o mais moreno. Tanto,
que é chamado pelos irmãos de nêgo Lisboa. Pois é, Lisboa. Demorei um tempo pra
me dar conta de que meu tio tinha o nome de uma cidade. E do estrangeiro. De
longe ele é o mais ligeiro na hora de fazer uma piada ou alguma invencionice. E
era sagrado que em cada período de férias ele viesse com uma novidade. A mainha
dizia que o que ele não consertasse era porque já tinha vindo quebrado da fábrica.
Não tinha jeito. É bonito de se ver a admiração dos irmãos pela engenhosidade
dele. Minha tia conta que ele mesmo fazia os brinquedos deles e que tudo era
feito com perfeição. Que ele fazia caminhões de madeira com farol que acendia e
tudo! Todos os detalhes, a pintura, as rodas, tudo impecável. Até culpam um dos
seus brinquedos pela corcunda do Israel, seu primo. Minha tia diz que o Curiba
ficou assim de tanto andar abaixado para empurrar o caminhão. Meu Deus, mas
porque é que ele não botou um cordão? Vai ver que ele não queria mesmo era
crescer. Tentou, tentou, mas o que conseguiu foi uma corcunda. Mas isso é lá
culpa do Lisboa? Vai saber! Nunca se deve duvidar das lendas de família.
Mas o tio Lisboa não é
bom só nos consertos e inventividades, não. Ele era o pé de valsa da família e
responsável pelas irmãs mais novas. Ou era com ele, ou mainha e tia Tota não
podiam ir aos bailes. Imagino mesmo que ele devia ser encantador. Tudo é mais
divertido com pessoas criativas, até uma simples conversa, ou uma dança. Ué,
mas não me lembro de ter dançado com ele em nenhuma das nossas festas
familiares. Agora, conversar... como nós conversávamos. No alpendre do Jatobá,
ele sentado na roda de bebedores em volta da mesinha branca de plástico, me
puxava pelo braço dizendo —
sente aqui minha filha. Nunca mais a gente conversou, né? — Eu parava em pé atrás dele e
ficava puxando carinhosamente seus pelos do peito, enquanto puxávamos um minuto
de prosa. Mas além de uma boa conversa ele é ótimo em trocadilhos e macaquices
com as palavras.
Numa dessas férias o
Júnior chegou e disse —
Anna, tu já ouviu a última do tio Lisboa? Pois pergunta ali a ele como é a
história de Bagdá. —
Eu já sabia que de certo era esculhambação e não perdi tempo. Assim que o vi na
fazendo fui logo indagando, como boa menina de recados. Ele deu uma risadinha e
disse — Aninha, se Bagdá, se conde d'Eu e
até os califas do Sudão, o que é que você ainda tá fazendo com esse negócio,
minha filha? —
gargalhei junto com ele e meus irmãos que, claro, estavam espiando pra ver
minha reação. Esse é o nosso tio Lisboa.
Outro dia ele me
puxou e disse assim —
Minha filha, tu já viu o que tua mãe tá fazendo? — Não, tio, por quê? — Ora, primeiro eu vejo ela agarrada num pedaço de
pano inteiro. Aí sai picotando, picotando, picotando. Depois, volta costurando
uns nos outros e no fim faz um vestido. Não tem lógica nenhuma! — Essa foi a descrição mais
interessante que eu já ouvi para o ato de costurar. Ele sempre me surpreende
com sua visão de mundo e eu adoro isso. Adoro o fato de ele saber consertar
desde máquina de costurar a ventilador e saber sobre mecânica de carros. Pena
não ter convivido mais com esse homem tão criativo e inventor. Mas ainda há
tempo. Um dos planos para a viagem de junho é passar tempo suficiente em Crateús
para, dançar com ele uma música que seja, conhecer sua oficina e aprender
alguma novidade com ele. Nem que seja besteira.
Ana lindinha, saudades da tua escrita e junto dela os "teus", é quase como se conhecesse alguns...
ResponderExcluirbeijos grandes minha querida
bel
Que lindo, você por aqui!! Pois é, mais uma dos "meus". Beijo pra ti e pros teus.
ExcluirTeu balaio, me faz relembrar, fechar os olhos e reviver. Agora quando voltar ao Brasil... vou reencontrar todos esses momentos, além claro, de criamos novos momentos juntos.
ResponderExcluirQuanto ao tio "CAPITAL LUSITANA" ele acima de tudo é um grande educador, é só observar os grandes filhos.
Volte logo! Vamos escrever momentos lindos! Obrigada pela visita. beijo.
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