Hoje aconteceu o último encontro do nosso
círculo de mulheres. O último dessa série! É importante dizer. Dez mulheres. Dez
histórias, dez cantigas, dez caminhos que nos conduziram ao nosso encontro e
agora dez milhões de possibilidades. Foram seis encontros em que conversamos,
conversamos, conversamos, conversamos, gargalhamos, conversamos, choramos,
conversamos, nos amamos, conversamos, comemos e bebemos, conversamos,
conversamos, conversamos.
E hoje pra fim de conversa o assunto foi identidade. Como dever de casa, tínhamos que levar poemas que de algum modo falassem de nós mesmas. E como boas meninas que somos, assim, fizemos. Aí peguei todos e botei no Balaio. Poemas no Balaio. Além dos poemas, ganhamos um desenho lindo, feito pela Cris. Esse aí, olhe. Hoje sentimos falta de duas de nós: a outra Cris e a Aline. Fiquem logo boas, meninas.
Hoje, compartilho com você um pouco desse universo feminino, que me diz quem eu sou e me ajuda a inventar quem eu quero ser.
E hoje pra fim de conversa o assunto foi identidade. Como dever de casa, tínhamos que levar poemas que de algum modo falassem de nós mesmas. E como boas meninas que somos, assim, fizemos. Aí peguei todos e botei no Balaio. Poemas no Balaio. Além dos poemas, ganhamos um desenho lindo, feito pela Cris. Esse aí, olhe. Hoje sentimos falta de duas de nós: a outra Cris e a Aline. Fiquem logo boas, meninas.
Hoje, compartilho com você um pouco desse universo feminino, que me diz quem eu sou e me ajuda a inventar quem eu quero ser.
Para vocês, mulheres desse círculo, nove carinhos e um
só abraço!
IARA por
Fernando Pessoa
“Há um
tempo em que é preciso
abandonar as roupas usadas,
que já tem a forma do nosso corpo,
e esquecer os nossos caminhos,
que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia...
e, se não ousarmos fazê-la,
teremos ficado, para sempre,
à margem de nós mesmos.”
abandonar as roupas usadas,
que já tem a forma do nosso corpo,
e esquecer os nossos caminhos,
que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia...
e, se não ousarmos fazê-la,
teremos ficado, para sempre,
à margem de nós mesmos.”
ESTELA
por
Fernando Pessoa
EROS E PSIQUE
“Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.”
LIZ por ela mesma (é,
a Liz não
é mesmo muuuuito obediente)
“Posso
escrever os versos mais tristes
esta noite
Como faria Neruda
Mas também posso falar banalidades
até o sol nascer
esta noite
Como faria Neruda
Mas também posso falar banalidades
até o sol nascer
Já viu o Maradona jogar no estádio?
Eu já
Vi também o Hagi e o Figo
Na neve
Dancei frevo em Olinda
Carimbó no Pará
Fui atrás do trio elétrico
Fumei, bebi, cheirei
Baladei
Ganhei, perdi, investi
Fali
Também já estive no Hades,
contei?
Visito Perséfone, lanterna na mão
Procuro por mim
Mexo caldeirões
Ajudo a curar com lágrimas
Danço em roda pra salvar o mundo
Sigo tambores e xamãs
Vai encarar?”
CRIS por
Elisa Lucinda
DOAÇÃO
“Não
sei se te contei
mas há algum tempo sou minha
me adquiri num mercado
onde o escambo era da posse pela liberdade
me obtive numa dessas voltas da morte
me acolhi num desses retornos do inferno.
Dei banho, abrigo, roupas, amor enfim.
Adotei o meu mim
como quem se demarca e crava em si o mastro da terra à vista
a cheiro, a tato, a trato, a paladar e ouvido.
Não sei se te contei
me recebi à porta da minha casa
abracei, mandei sentar
Abracei eu mesma, destranquei a porta
que é preu sempre poder voltar.
Dei apenas o céu à sua legítima gaivota
Somos a sociedade
e ao mesmo tempo a cota
Visita e anfitriã
moram agora num mesmo elemento
juntas se ancoram
na viagem das eras
No novelo do umbigo
No embrião do centro
No colo do tempo.”
mas há algum tempo sou minha
me adquiri num mercado
onde o escambo era da posse pela liberdade
me obtive numa dessas voltas da morte
me acolhi num desses retornos do inferno.
Dei banho, abrigo, roupas, amor enfim.
Adotei o meu mim
como quem se demarca e crava em si o mastro da terra à vista
a cheiro, a tato, a trato, a paladar e ouvido.
Não sei se te contei
me recebi à porta da minha casa
abracei, mandei sentar
Abracei eu mesma, destranquei a porta
que é preu sempre poder voltar.
Dei apenas o céu à sua legítima gaivota
Somos a sociedade
e ao mesmo tempo a cota
Visita e anfitriã
moram agora num mesmo elemento
juntas se ancoram
na viagem das eras
No novelo do umbigo
No embrião do centro
No colo do tempo.”
MILA
por Rubem Alves
“Não
haverá borboletas se a vida não passar por longas metamorfoses.”
por
Alberto Caeiro
“Sejamos
simples e calmos
como os regatos e as árvores,
e Deus amar-nos-á fazendo de nós
belos como as árvores e os regatos,
e dar-nos-á verdor na sua primavera
e um rio aonde ir ter quando acabemos!...”
como os regatos e as árvores,
e Deus amar-nos-á fazendo de nós
belos como as árvores e os regatos,
e dar-nos-á verdor na sua primavera
e um rio aonde ir ter quando acabemos!...”
CÁSSIA por Manoel de
Barros
“Não é por me gavar
mas eu não tenho esplendor.
Sou referente pra ferrugem
mais do que referente pra fulgor.
Trabalho arduamente para fazer o que é
desnecessário.
O que presta não tem confirmação,
o que não presta, tem.
Não serei mais um pobre diabo que sofre de
nobrezas.
Só as coisas rasteiras me celestam.
Eu tenho cacoete pra vadio.
As violetas me imensam.”
mas eu não tenho esplendor.
Sou referente pra ferrugem
mais do que referente pra fulgor.
Trabalho arduamente para fazer o que é
desnecessário.
O que presta não tem confirmação,
o que não presta, tem.
Não serei mais um pobre diabo que sofre de
nobrezas.
Só as coisas rasteiras me celestam.
Eu tenho cacoete pra vadio.
As violetas me imensam.”
RENATA por
Candeia e Cartola
Preciso Me Encontrar
“Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar...
Preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar...
Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver...
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar...
Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver...
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar...
Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Sorrir prá não chorar
Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar...”
EU por Sá e Sérgio Magrão
Caçador de Mim
“Por tanto amorPor tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim
Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim
Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura
Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir
O que me faz sentir
Eu, caçador de mim”
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