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domingo, 25 de março de 2012

O que nos faz pensar diferente?


         Essa história eu ouvi há muito tempo. Ela nasceu da Monika Feth em 1993, provavelmente na Alemanha, e é uma das mais lindas que eu conheço.  Não encontro outras palavras para introduzi-los a essa lindeza de mais uma das Histórias que vou catando por aí. Apenas aviso que esta é a minha versão livre de "O catador de pensamentos". Com sua licença, Monika. As imagens são recortes das ilustrações de Antoni Boratynski. Boa leitura e outros pensamentos!


O catador de pensamentos


         Seu Rabuja nunca atrasa. Posso até acertar meu relógio de acordo com sua passagem, de tão pontual que ele é. Ali vem ele subindo a rua na direção do centro da cidade. Movimenta-se como alguém que não sabe o que é pressa. É um homem velho e as pessoas velhas muitas vezes parecem ter os bolsos cheios de tempo. Cuidadosamente, guardam cada minuto, cada hora e cada dia de sua existência. Ele é um catador de pensamentos. Isso mesmo. Todas as manhãs, seu Rabuja sai de mochila vazia e volta com ela lotadinha de pensamentos. Pensamentos bonitos e feios. Pensamentos alegres e tristes. Pensamentos silenciosos e barulhentos. Pensamentos inteligentes e bobos, pensativos e dispersos. Na verdade, todos são importantes para ele, embora sempre haja aqueles preferidos. Mas isso ele não demonstra, para não ferir os outros pensamentos. Pois como a gente já sabe, pensamentos são muito frágeis.
         Durante sua caminhada matinal, seu Rabuja está sempre muito atento. É que ele consegue ouvir os pensamentos, mesmo atrás das grossas paredes das casas, ou muito distantes. Nem o pensamento mais pequenininho lhe escapa. Quando ouve qualquer sinal de pensamento, ele abre a mochila, assovia, delicadamente, e espera que o pensamento chegue voando. Alguns chegam suaves, outros se aproximam tão depressa que quase derrubam seu Rabuja. Cada pensamento com seu jeito próprio, mas todos imprevisíveis. Com a mochila cheia, ele volta para casa.
         Aí, prepara seu almoço, enquanto deixa os pensamentos descansar sobre um tapete macio, separadinhos por ordem alfabética. Num cantinho, os pensamentos com A, amorosos, atrevidos, atrapalhados. Noutro cantinho, os pensamentos com B, bondosos, bobos, brincalhões... E por aí vai. Depois que seu Rabuja descansa ou realiza outras tarefas do dia, ele vai para o quintal e prepara mais uma vez o canteiro. Na terra bem adubada e fofinha, ele planta os pensamentos colhidos naquele dia. Tudo com muito cuidado e amor, para que nenhum se perca, nem se machuque. A noite rega a terra sutilmente com seu orvalho e cobre a cidade como um manto, escondendo a maravilhosa floração dos pensamentos.
         As primeiras luzes da aurora anunciam a renovação de mais um dia. Como se tivesse um sensor de aurora no bolso do pijama, seu Rabuja se acorda, prepara uma xícara de café e vai se sentar, confortavelmente, diante do canteiro. Lá estão as mais lindas flores que já se viu no mundo!! Flores ternas, listradinhas de azuis e verde, flores brancas aveludadas e com pétalas espinhentas, flores vermelhas com bolinhas laranja, flores pretas de pétalas tão suaves quanto a seda e quase transparentes. Flores de todos os tipos e cores. Com todos os tons, texturas e cheiros. Seu Rabuja se delicia com aquela imagem de aquarela. Enquanto espera o grande momento, se aquece tomando seu café. Logo se iniciará.
         O sol nasce preguiçoso e sobe devagarzinho no horizonte, mas já é possível ver os primeiros raios tocarem as flores dos pensamentos. Nesse momento, se escuta a mais linda melodia, que ocupa todo o espaço e todo o tempo. Na medida em que os raios do sol aquecem as flores, estas se dissolvem numa poeira colorida e brilhante. Pequenos grãos de flor de pensamento flutuando no ar. A brisa fresquinha do novo dia sopra no quintal e leva aquele pozinho lindo, colorido e brilhante. Quanto mais próximos do sol, mais crescem os grãos de poeira, se transformando em novos pensamentos que pousarão novamente sobre as pessoas em todos os lugares.
         Todas as cidades têm catadores de pensamentos. As grandes têm vários que sempre trabalham muito discretamente. Imagine se não fossem esses catadores? Os pensamentos ficariam o tempo todo se repetindo e adoecendo as pessoas, até que um dia, provavelmente, iriam deixar de existir. Mas felizmente, amanhã pousará sobre mim um outro pensamento, diferente dos que me visitaram hoje e dos que me visitarão depois de amanhã. Vida longa aos catadores de pensamentos!

4 comentários:

  1. Flores ternas, listradinhas de azuis e verde, flores brancas aveludadas e com pétalas espinhentas, flores vermelhas com bolinhas laranja, flores pretas de pétalas tão suaves quanto a seda e quase transparentes. Flores de todos os tipos e cores.

    :)

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  2. Oi Karê

    Aprendi no Yoga que no momento da meditação é muito difícil evitar os pensamentos. Sempre fico entre dois ou três pensamentos quando estou meditando. Devemos deixá-los entrar porque naturalmente eles vão embora, mas depois deste texto aí em cima, vejo que são os catadores e o sêo Rabuja que pegam nossos pensamentos. Sabia que nunca havia pensado nisto antes?

    bj,

    Mauzinho

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  3. Ô meus amores, é tão bom ler os comentários de vocês e saber que passaram por aqui. O mundo virtual é mágico e ao mesmo tempo estranho. Beijos, Kare

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