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domingo, 2 de setembro de 2012

O homem, o cálice e o louco



         Essa história eu catei durante a leitura de “O caçador de pipas”. Esse é o primeiro conto escrito pela personagem principal, o narrado da história, Amir. O conto não é exatamente assim, pois, como já avisei, essas histórias eu conto com as minhas palavras. Invento um ponto aqui outro ali, mas a essência é a mesma e por isso a História não é minha. É dessas que vou catando por aí. Tenha uma ótima semana de lindas histórias. 


Era uma vez...



        ... um homem. Embora fosse muito pobre, ele sempre encontrava motivos para se alegrar. Um dia, desses qualquer, durante a pescaria, na esperança de levar comida para casa, o homem pobre puxa um cálice, preso no anzol. Indignado por não ter conseguido pescar um único peixe para matar a fome de sua família, ele pensa em jogar fora o cálice, mas desiste pensando que talvez consiga trocá-lo por comida na feira. Ele limpa bem o objeto a ponto de ver umas instruções gravadas na base da peça.
        Depois de muito pensar ele descobre que aquele é um cálice mágico, que transforma lágrimas em pérolas. Cada lágrima derramada dentro do cálice transformava-se em pérola. Lágrimas de alegria davam perolas negras, lágrimas de tristeza, pérolas rosadas e lágrimas de dor pérolas brancas. E o tempo foi passando. Sempre só de ida. O homem, que já não era mais tão pobre, procurava cada vez mais motivos para chorar. Quanto mais lágrimas ele derramava, mais pérolas brotavam do interior do cálice. O homem foi tornando-se mais e mais ambicioso, à medida que procurava motivos ainda piores para derramar lágrimas.
        Diz que quem o viu pela última vez, sobre uma montanha de pérolas, foi o louco da aldeia. Em uma mão, o homem segurava a faca, com que havia matado sua esposa e com o outro braço segurava o corpo, já sem vida, de sua amada. O homem, aos prantos, derramava lágrimas de arrependimento e dor, que também se transformavam em pérolas. Foi aí que o louco, que passava por lá, vendo aquela cena parou diante do homem. Espantado, perguntou por que ele havia matado sua esposa, se a amava tanto.
        O homem balbuciou algumas palavras dizendo que a ambição lhe tinha dominado a alma e que desde que encontrou aquele maldito cálice, ele só procurava tristeza e dor e razões cada vez piores para chorar. De certo que a explicação não convenceu o louco, que abanava a cabeça, segurando-a com as mãos, como quem diz: não entendo, não entendo. Seguiu pela estrada, alguns passos trôpegos e voltou num ímpeto de loucura e gritou:
— Por que ao invés de matar sua esposa, você não foi cortar cebolas?
 

2 comentários:

  1. Seus textos são ótimos e trazem lições maravilhosas. Obrigado por compartilhá-los com doçura, sem nada querer em troca, a não ser tornar nossos corações mais humanos.
    Vou frequentar este espaço com carinho sempre que puder neste mundo louco.
    Abraço
    (Jaime P. Silva, jornalista)

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  2. Puxa vida, Jaime... que lindo o teu comentário! Que calmo e sereno. Vou ficar muito feliz cada vez que você deixar um comentário. Um abraço forte, como uma pausa na loucura.

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