Os poemas dessa mulher, Viviane
Mosé, conversam comigo no meu quarto mais íntimo. E depois que eu fiquei
sabendo que ela escreve poemas para interferir no nosso cotidiano com a
filosofia, aí foi que eu me apaixonei de vez. Pela poesia, pela mulher, pela
história, pela ideia. Depois dos poemas está um vídeo em que Viviane explicita sua
política da linguagem e defende o entendimento de que palavras são signos e não
verdades. Conceber isso muda nosso jeito de nos comunicar. E você tem dúvida de que a comunicação é nosso maior desafio? Convido você a assistir e deixar-se contaminar com essas palavras e
suas consequências. Depois, você encontra as informações biográficas,
apresentadas no site da escritora, que eu chamo de Uma breve grafiacomvida. Que
mais essa postagem de Poemas no Balaio aumente o nosso mundo. Bom feriado, boas palavras.
SEQUÊNCIA "POEMAS - TEMPO" - SEM
TÍTULO
quem tem olhos pra ver o tempo soprando
sulcos na pele
soprando sulcos na pele soprando sulcos?
∞
o tempo andou riscando meu rosto
com uma navalha fina
sem raiva nem rancor
o tempo riscou meu rosto
com calma
(eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença)
∞
acho que a vida anda passando a mão em mim.
a vida anda passando a mão em mim.
acho que a vida anda passando.
a vida anda passando.
acho que a vida anda.
a vida anda em mim.
acho que há vida em mim.
a vida em mim anda passando.
acho que a vida anda passando a mão em mim
∞
e por falar em sexo quem anda me comendo
é o tempo
na verdade faz tempo mas eu escondia
porque ele me pegava à força e por trás
um dia resolvi encará-lo de frente e disse:
tempo
se você tem que me comer
que seja com o meu consentimento
e me olhando nos olhos
acho que ganhei o tempo
de lá pra cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando
∞
para uma nova gramática:
imagine um sentimento água. um sentimento
árvore.
uma agonia vidro. uma emoção céu. uma espera
pedra.
um amor manga. um colorido vento sul. um
jeito casa
de ser. uma forma líquida de pensar. uma vida
paredes.
uma existência mar. uma solidão cordilheira.
uma
alegria pássaro em chuva fina. uma perda
corpo.
acho que hoje acordei semente. tenho andado
muito
temporal. minha irmã vive um momento tudo. a
vida
às vezes transborda pelos poros. me atinge um
estado
livro. aurora em meus joelhos. tem pessoas
ponte.
algumas carregam a gravidade nas costas. já
conheci
gente buraco negro. eu amo o instante limo.
tem um
branco
em mim. a vida me urca. sofro de saudade
anônima.
palavras me beijam a boca.
∞
UMA BREVE GRAFIACOMVIDA
“É capixaba e vive no Rio desde 1992. É
psicóloga e psicanalista, especialista em “Elaboração e implementação de
políticas públicas” pela Universidade Federal do Espírito Santo. Mestra e
doutora em filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora do livro Stela do Patrocínio
-Reino dos bichos e dos animais é o meu nome, publicado pela Azougue Editorial
e indicado ao prêmio Jabuti de 2002, na categoria psicologia e educação.
Organizou, junto com Chaim Katz e Daniel Kupermam, o livro Beleza, feiúra e
psicanálise (Contracapa, 2004). Participou da coletânea de artigos filosóficos,
Assim Falou Nietzsche (Sette Letras, UFOP, 1999). Publicou em 2005, sua tese de
doutorado, Nietzsche e a grande política da linguagem, pela editora Civilização
Brasileira. Escreveu e apresentou, em 2005 e 2006, o quadro Ser ou não ser, no
Fantástico, onde trazia temas de filosofia para uma linguagem cotidiana.
Como poeta, publicou seu primeiro
livro individual em Vitória, ES, Escritos, (Ímã e UFES, 1990). Publicou, no
Rio, Toda Palavra, (1997), e Pensamento Chão ( 2001), ambos reeditados pela
Record em 2006 e 2007. E Desato (Record, 2006). Participou em 1999 do livro Imagem
Escrita (Graal, 1999), coletânea de artistas plásticos e poetas, em parceria
com o artista plástico Daniel Senise. Seus poemas foram tema da Coleção
Palavra, de estilistas de Oestudio Costura, que desfilou no Fashion Rio de
2003. É autora dos textos poéticos da personagem Camila no filme Nome Próprio
de Murilo Salles, (2008). Tem alguns de seus poemas musicados, é parceira da
cantora Mart’nália em duas músicas, “Contradição” e “Você não mebalança mais”,
que foram gravadas por ela e por Emílio Santiago, em seu último disco.
Participou de diversos eventos de
poesia como a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, Feira do Livro
de Fortaleza, Feira do Livro de Porto Alegre, Festival de Inverno de Ouro
Preto, Festival de Teatro de São José do Rio Preto, Rio Cena Contemporânea,
Festival Carioca de Poesia, Bienal Internacional de poesia de Brasília, entre
outros. Atualmente é sócia e diretora de conteúdo da Usina Pensamento e
apresenta diariamente na Rádio CBN, junto com Carlos Heitor Cony e Artur Xexéu,
em um dos programas de maior audiência da rádio, o Liberdade de Expressão. Ao
mesmo tempo, como palestrante e consultora, dedica-se a pensar os desafios das
novas lideranças e as novas relações de trabalho na sociedade do conhecimento.”
(vivianemose.com.br)
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