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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Histórias que vou catando por aí

Com este texto, abrimos outro espaço no Balaio, que será dedicado às Histórias que vou catando por aí. A desta semana foi escrita, não sei se contada, por Tolstoi. Sim, o mesmo de Guerra e paz e Anna Kariênina. Escolho este conto porque fala muito bem sobre minhas sensações durante os primeiros dias do ano que passei em Juazeiro do Norte com minha família. Tanto o título, quanto o texto são minha versões. Por isso, com sua licença, Tolstoi. Aproveite!

A sabedoria do imperador

            Certo dia, o Imperador de um grande reino acordou achando que tudo transcorreria bem em sua viva, e na vida de seus súditos, caso ele encontrasse a resposta para três perguntas: Qual a atitude certa para tomar em cada momento? Qual o momento certo para fazer cada coisa? Qual a pessoa certa para estar em cada momento? Então ordenou que seus ministros divulgassem, por todo o seu reino e os de todo o mundo, um édito oferecendo uma enorme recompensa para aquele ou aquela que tivesse a melhor resposta. Seu édito correu o mundo e a cada dia as filas de pessoas querendo uma chance de apresentar uma resposta ficavam maiores.
            A primeira pergunta alguns responderam assim: “As atitudes corretas são aquelas tomadas pela razão. Portanto, o Imperador deve abandonar qualquer tipo de sentimentalismo e privilegiar a razão”. “Para saber que atitude tomar em cada momento o Imperador deve se aconselhar com os Ministros.” Outros ainda diziam ser impossível tomar uma atitude correta sem prever o que aconteceria e por isso mesmo o Imperador deveria consultar Magos e Videntes sobre os acontecimentos futuros para estar pronto. Nenhuma das respostas acalmava o coração ansioso do Imperador. As respostas à segunda pergunta foram, em princípio, semelhantes: “Para saber o momento certo de fazer cada coisa o Imperador deve criar uma planilha e nela lançar tudo o que deve ser feito e segui-la à risca”. “O Imperador deve abandonar as futilidades e qualquer tipo de atividade improdutiva que possa representar perda tempo.” Essas também não o satisfizeram.
            Do mesmo modo, as respostas dadas à terceira pergunta também não o agradaram. Uns diziam que o Imperador deveria acompanhar-se dos sacerdotes, outros dos cientistas e outros ainda dos exércitos. Insatisfeito com tais respostas, o Imperador resolveu perguntar a uma Velha que morava no topo da montanha, conhecida como a mais sábia do reino, e assim fez. Sabendo que ela não o receberia se conhecesse sua identidade imperial, deixou sua comitiva no pé da montanha e, disfarçado de aldeão, seguiu o caminho sozinho. Lá, encontrou a mulher capinando a terra do seu jardim.
— Bom dia senhora. Vim de muito longe para saber suas respostas para três perguntas: Qual a atitude certa para tomar em cada momento? Qual o momento certo para fazer cada coisa? Qual a pessoa certa para estar em cada momento? — A mulher, que trabalhava a terra já com dificuldade, virou-se em sua direção, enxugou o suor da testa na barra da saia e com um sorriso amável acenou positivamente com a cabeça. Depois, voltou para o seu trabalho. O Imperador insistiu com suas perguntas, mas percebendo que não obteria respostas imediatas, ofereceu-se para ajudá-la. A Velha aceitou com gratidão, sem dizer uma palavra, e sentou-se para descansar. Algum tempo depois, pela primeira vez ela fala com o Imperador.
— Já estou descansada. Posso retomar o trabalho.
— Pois bem senhora, vim aqui para conhecer sua resposta para minhas perguntas e até agora a senhora nada me disse. Por favor, me responda.
A mulher novamente sorriu com ternura e quis retomar o trabalho, mas o Imperador continuou capinando a terra sem parar. Pouco tempo depois, os dois observaram que alguém se aproximava. Era um homem ferido e sangrando muito, que desmaia aos pés da mulher. Imediatamente, o Imperador usa sua camisa para estancar o sangue do desconhecido. Inútil. O ferimento profundo não para de sangrar, o que o obriga a lavar a camisa várias vezes e novamente apertá-la contra o ferimento. A noite chega e todos, absolutamente exaustos, caem no sono. Despertam na manhã seguinte com o homem ferido pedindo água. Sem pensar, o Imperador pega um balde e busca água no rio. Oferece água ao desconhecido que felizmente sentia-se um pouco melhor.
— Muito obrigado, muito agradecido! O senhor não me conhece, mas eu sei bem que o senhor é o Imperador. Eu estava decidido a matá-lo, pelo que seu exército fez com minha família. Armei uma emboscada esperando encontrá-lo na descida dessa visita. Como o senhor demorou demais, seus homens acabaram me achando e me feriram. Por sorte, escapei e consegui chegar aqui. Serei eternamente grato e o servirei até meu último dia.
            O Imperador ficou surpreso com tais confissões e muito contente por ter a chance de reatar os laços de amizade com uma família tão querida. Pediu perdão pelo que havia causado e ordenou que aquele homem fosse cuidado pelos médicos imperiais, e que tudo que foi tirado daquela família fosse devolvido em dobro. Mas ainda faltavam as respostas. Deixou sua comitiva e subiu novamente a montanha em busca delas. Encontrou a senhora no mesmo serviço do dia anterior. Ela o recebeu com o mesmo sorriso amável.
— Senhora, desde ontem estou a espera de suas respostas às minhas perguntas. Por deus, me diga: Qual a atitude certa para tomar em cada momento? Qual o momento certo para fazer cada coisa? Qual a pessoa certa para estar em cada momento?
— Ora, ora, senhor Imperador, você mesmo se respondeu.
— Perdão senhora, como posso ter me respondido?
— Ter decidido me ajudar ao invés de ir embora, foi a atitude certa a ser tomada naquele momento. De outro modo, teria sido pego por seu inimigo. Quando seu antigo inimigo chegou ferido e você cuidou dele, era exatamente o momento certo para ajudá-lo a sobreviver e ter a chance de fazer as pazes com aquela família. Já as pessoas certas para você estar naqueles momentos fomos nós dois.
            Com o mesmo sorriso amável, voltou-se para a terra e continuou o trabalho.


            Um lindo 2012 para todos nós! Boas leituras!

2 comentários:

  1. Fiquei muito feliz e lisonjeada por você ter tomado a ATITUDE de estar aqui naquele MOMENTO especial (reveillon) com esta PESSOA que lhe escreve... A sua presença e o seu astral foram importantíssimos para que o meu ano começasse tão bem!!!!

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  2. Descobri nêga! Êbá!!!Digo de novo que amei conhecer você novamente.

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