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domingo, 1 de janeiro de 2012

Família é mesmo sensacional

              Viajando a caminho de Juazeiro do Norte, onde vou passar o Rèveillon com a família de minha mãe, vou me lembrando das histórias de infância vividas no meio dos Azevedo. É assim que nos autodenominamos, os descendentes de Dona Fransquinha e Seu Chico Rodrigues. Mas antes de continuar, é melhor que eu avise ao leitor, que estranhou o absolutismo da afirmação inicial, que não pretendo, aqui, assumir uma posição ponderada de quem procura enxergar os dois lados de tudo. Não. Serei tendenciosa e resistirei, bravamente, à tentação de apontar os defeitos da minha família. Mesmo porque a loucura da minha, nada tem a ver com a da sua. Ou tem? Ah, nesse momento, isso não importa, pois esse texto existe para falar do que há de melhor na minha família: as pessoas. Uma delas, em especial. E como o texto será esculpido a partir de memórias de infância, por que não começar com: Era uma vez...
              As férias chegavam e o melhor era viajar para a fazenda dos meus avós, que fica lá em Crateús. Saíamos de casa com uma mãe e, chegando lá, éramos adotados por um monte de outras mães. Todas cuidavam de todos. Entre todas aquelas tias, hoje vou jogar a luz da memória numa delas em especial: a tia Joaninha. Por quê? Sei não, só sei que vai ser assim. Sabe aquela tia que faz as vontades dos sobrinhos, compra picolé e tem as ideias mais legais? Aquela tia que sempre diz: “deixa a bichinha fazer... deixa o bichinho ir...” Pois é, essa é a minha tia Joaninha, que só andava escoltada uma ruma de meninos e meninas. Dela mesma, no começo, só o Rafael, depois é que veio a Bruna. Enchia os carros de criança, sob os protestos do tio Zezé, seu companheiro, e nos levava para tudo quanto era canto, nas maiores aventuras. O tio Zezé nunca acompanhava o ritmo dela. Mas também, era difícil. Era ela que dirigia e por isso mesmo ia aonde queria, passando, sem moderação, por poças d’água deixadas pela chuva do bom inverno.
            O carro de que eu mais me lembro era um Fiat 147 marrom. Ele era um super carro, que criava asas depois de passar por uma pedra ou penas de pato, para passar, sem se afogar, pelas benditas poças. É bem verdade que às vezes ele cansava e nos obrigava a sair com água na canela. Era o máximo, ter que empurrar o marronzinho. Esse carro fez parte da minha infância como um brinquedo querido. Aliás, acho bem pouco provável que só eu tenha aprendido a dirigir naquele carrinho. Não tenho dúvida de que meus primos e primas têm suas próprias histórias com a tia Joaninha. O Tino mesmo, eu sei que aprendeu a andar de bicicleta com ela. Das tias, e olhe que tenho muitas e sobre cada uma poderia escrever uma centena de crônicas, ela era a mais pró, pró... pró-macacada. Era assim que ela nos chamava.
              Não media esforços para nos ver sorrir, para nos ver felizes. Não havia espinho que ela não desviasse. Adorava nos presentear. E isso, para mim e meus irmão, ainda que contra a vontade de minha mãe, não trazíamos esse hábito de casa, era impressionante. Uma vez, ganhei dela uma bola de vôlei. Meu Deus, que presente mais legal! Como doía ver minha bolinha voando pelos ares, de mão em mão. Depois do jogo, eu limpava a bola como se ela nunca mais fosse ver areia nem poeira. Imagina, no sertão do Ceará, uma bola de vôlei não se sujar no terreiro de uma fazenda? Era bem capaz! Para onde eu fosse minha bola vinha comigo, claro! Devo até ter tentado dormir com ela. Lindo presente da tia Joaninha.
               Tínhamos e felizmente, ainda temos um carinho imenso por essa mulher forte com um nome tão singelo: Joaninha. E o nome dela é esse mesmo. Joaninha não é um apelido carinhoso que se deu a uma tia chamada Joana, não. Joaninha é um nome que a conecta com a terra, com o rio, com as rolinhas, com a mandioca e com a chuva. Minha tia é sim mulher da natureza, do mato, do que é simples e encantador. Agora me diga, quem tem uma Joaninha como tia, precisa mais de que, para ser alegre? Família é mesmo sensacional!

2 comentários:

  1. As joaninhas são predadores do mundo dos insetos e alimentam-se de outros insetos, na maioria nocivos à agricultura, já que a maior parte de suas presas causa grandes estragos às plantações. Portanto, até o nome de "Joaninha" foi uma sábia escolha de nosso avô porque a nossa joaninha sempre soube ser uma grande defensora da terra e de tudo ligado a ela...

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  2. Lembro de uma belina, nos a brigar pra saber quem iria na frente (Brunas, Rodrigo, eu, Karoline, Gabriela, Denise, Neto e Rafael a dirigir), quando vejo a tia Joaninha entrar no por5a-malas dizer: "pronto acabou a confusão, vamos p fazenda". Já sabia que íamos apanhar ao chegarmos.

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