A mais velha senhora
Nesse feriado, prolongadíssimo, aproveitei para
fazer uma visita, no mínimo, inusitada. Fui com um casal de amigos a uma
cidadezinha a cerca de 250 km de São Paulo, conhecer uma velha senhora. Saímos
cedo, no carrinho azul, ansiosos com a viagem que havia se configurado meio em
cima da hora. No caminho não falávamos em outro assunto a não ser na velha
senhora. E que senhora, e que velha! Um jequitibá rosa que mora no Parque
Estadual de Vassununga, em Santa Rita do Passa Quatro e talvez seja a árvore mais velha do Brasil. Sabe há quantos anos
vive essa árvore? Há pelo menos 3.000!! Isso mesmo. Ela já era uma senhora de
1.000 anos quando Jesus passou por aqui, quer dizer, por lá. Fico imaginando tudo
o que essa árvore já viveu, do alto dos seus 3.000 anos. Se ela falasse, heim?
Eu seria uma das que ficaria sentadinha debaixo dela, só ouvindo suas
histórias.
Foi
inevitável não me assustar com a visão daquela gigante. Estar ali e poder
abraçá-la foi realmente uma forma de oração, uma prece. Foi sentir a fugacidade
de ser humano. Somos plumas sopradas ao vento que logo, logo cairão. Sua raiz mais
profunda chega a 18 m. Cerca de 1/3 fica embaixo da terra, invisível, garantindo
o sustento, tanto físico quanto bioquímico. Nós também, como árvores enterramos
nossas raízes em solos onde esperamos nos nutrir. Também temos partes escondidas
que nos sustentam e nos dão a possibilidade de viver. Abraçar um ser vivo a
mais de 3.000 anos foi me reconectar com a natureza de onde viemos e para onde
vamos voltar.
Depois
de dar voltas ao redor dela, olhar sua copa de todos os ângulos, tentar
inutilmente distinguir o formato de suas folhas a mais de quarenta metros de
altura, começamos a elucubrar sobre as razões pelas quais ela ainda estaria de
pé. Sim porque jequitibá é madeira de lei! Talvez seu tronco já fosse tão
grosso, que amedrontou os machados. E aí quando vieram as motocerras, já se
tinha um pouco de consciência do seu significado e resolveu-se preservar. Vai
saber. Um misto de várias razões. Fato é que ela está lá e segundo um dos
vigias do parque “gosta que visite”. Você consegue imaginar quantas vidas já
passaram por essa árvore? Eu não. Só consigo me sentir grata pela oportunidade
de abraçar um ser tão velho e tão lindo, tão majestoso e tão generoso. Se você
tiver oportunidade, vá lá. Vale muito a pena.
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