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domingo, 6 de maio de 2012

O Guardador de Pessoas


 
            Na postagem dessa semana, compartilho com vocês alguns fragmentos dos poemas de Alberto Caeiro. Segundo Ricardo Reis, “Caeiro, do mesmo modo que Whitman, deixa-nos perplexos. Somos arrancados de nossa atitude crítica por um tão extraordinário fenômeno. ... A obra de Caeiro representa a reconstrução total do paganismo, na sua essência absoluta, tal como nem os gregos ... o puderam fazer.” E esse Fernando heim? Quantos Pessoas guardava nele mesmo? Para os que preferem poesia, esta é uma semana de Poemas no Balaio. As fotos são dos meus rebanhos. Boa leitura!



O guardador de rebanhos


I
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais

Não tenho ambição nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho




II
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,

E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como um malmequer
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...



V

Há metafísica bastante em não pensar em nada.



VII

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no
                                                           [Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra
                                                           [qualquer
Por eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...



IX

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido


Um comentário:

  1. Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, Fernandinho Beira-Mar... Pelo menos um Fernando nesta vida tinha que ser boa pessoa... Assim como esse tal de Alberto... E que poemas eles fazem, de modo bem natural, como o ciclo de uma fruta, desde a plantação da semente.

    bj,

    Mauzinho

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