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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Leminski contra a culpa

           Cheguei em casa, de volta das férias vividas em Fortaleza, e logo procurei vencer a inércia que, normalmente, me domina nesses momentos de retorno. Abrir a mala sem pensar é a melhor estratégia! Como de costume, faço o reconhecimento da casa para ter certeza de que tudo está como antes. Tudo no lugar. Aí parei no quarto amarelo, bem em frente às estantes, e movida pela culpa de comprar livros, sem dar conta de ler todos, vi meu indicador direito puxar um livro de poesia: Paulo Leminski, coleção Melhores Poemas da Global Editora. Era só o que eu queria, e me entreguei ao desejo de não continuar chegando.
          O livro passou a semana me fazendo companhia. Foi aí que pensei que seria legal inventar mais um tipo de mercadoria para oferecer no Balaio. Como me falta criatividade para títulos, fica assim mesmo, até que alguém se digne a sugerir algum melhor: Poemas no Balaio. E para começar, conto o que li de Leminski. Pensei em escrever uma breve biografia, mas desisti com a intenção de que essa postagem seja bem curtinha, para compensar as anteriores (rs). Quem achar que uma nanobiografia pode ser interessante, por favor, comente e providenciarei para a próxima.
          Essa postagem eu gostaria de dedicar especialmente aos estudantes do Centro dos Retalhistas, que têm trabalhado o material postado aqui. Aliás, é das ou dos retalhistas? Bom, vejam o que esse cara é capaz de fazer com a língua, quer dizer, com o português, ou melhor, com a nossa língua portuguesa. Desisto de evitar os trocadilhos. Aproveitem!




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                                     (do livro Caprichos e Relaxos. São Paulo, Brasiliense, 1983)

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POR UM LINDÉSIMO DE SEGUNDO
    
    tudo em mim 
anda amil
tudo assim
tudo por um fio
 tudo feito
tudo estivesse no cio
    tudo pisando macio
tudo psiu

    tudo em minha volta
anda às tontas
    como se as coisas
fossem todas
    afinal de contas
 
                                                                               (do livro Distraídos Venceremos. São Paulo, Brasiliense, 1987)

 
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sossegue coração
ainda não é hora
a confusão prossegue
sonhos a fora

    calma calma
logo mais a gente goza
    perto do osso
a carne é mais gostosa


***
 

     você está tão longe
que às vezes penso
    que nem existo

    nem fale em amor
que amor é isto
 

***

 
    amar é um elo
entre o azul
    e o amarelo
 
                                            (do livro La Vie em Close. São Paulo, Brasiliense, 1991)

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